Transportes marítimos, portos e banca são sectores nos quais os chineses estão interessados em investir em Portugal, além da energia, seguros e imobiliário, onde já estão, e dos resíduos onde manifestaram vontade de estar, diz o presidente da Fundação Oriente.
"Os chineses querem ter um banco aqui para terem uma presença na Europa", mas também "têm interesse nos transportes marítimos e nos portos", afirmou, em entrevista à Lusa, Carlos Monjardino, que por razões profissionais tem há muitos anos contactos com a China.
Para o gestor da Fundação Oriente o investimento chinês no sector financeiro é não só "possível como é desejável", lembrando que "houve um interesse grande de dois bancos chineses que quiseram vir para Portugal já há uns anos", negociações que não foram avante na altura e que garante desconhecer os motivos.
Quanto a bancos portugueses que poderiam estar agora sob o olhar atento dos chineses, Carlos Monjardino tem uma resposta curta e rápida: "o BCP". E sublinhou que "já não é a primeira vez que eles olham para o BCP".
Já em relação ao interesse de chineses pelos transportes marítimos e portos, destaca que este ganhou ainda maior relevância com as recentes alterações na Ucrânia.
Neste novo contexto, "os portos portugueses podem ser, nomeadamente aqueles em que há hipóteses de armazenagem de gás, um ponto de passagem do gás que vem dos Estados Unidos para outros países. Mas já antes disto [crise na Ucrânia], com o alargamento do canal do Panamá, esperava-se que muito mais se fizesse por transportes marítimos e nós ficávamos numa posição, até mais os Açores, muito boa para funcionar como uma base de distribuição para outros países".
Quanto ao interesse já público de chineses na privatização da Empresa de Geral de Fomento, Carlos Monjardino explica que a pretensão dos investidores "é vir buscar 'know how' na área do tratamento dos lixos", adiantando que "um dos enormes problemas que a China tem é um défice de técnica para recuperação e tratamento de lixo. E tinham aqui [na privatização da EGF] uma maneira barata de comprar uma empresa, que é tecnicamente muito válida nessa área para depois utilizarem esse conhecimento na China", explicou.
Carlos Monjardino considera que "os vistos gold facilitaram muito as coisas" para que os negócios de chineses em Portugal tenham vindo a crescer nos últimos anos e em sectores importantes, mas acredita que "os chineses também dão muita importância ao relacionamento histórico de 500 anos" que existe entre os dois países. Além disso, frisa, "a questão de Macau passou-se bem.
No entanto, também admite, que Portugal é um país mais aberto ao investimento chinês do que outros países da Europa.
E quando questionado sobre se Portugal é para os chineses uma ponte para a Europa ou para África, responde: "Para a África ou para a Europa, mas mais para a África de língua portuguesa, em muitos casos".
Sobre os riscos de atribuição de vistos Gold, que já conduziram à abertura, por parte do Ministério Público, de dois processos de investigação sobre cidadãos chineses, Carlos Monjardino, desdramatiza e argumenta que os vistos passam pelo crivo do SEF - Serviços de Estrangeiros e Fronteiras, e embora considere este tipo de casos "vai surgir sempre", realça que "na aflição em que estamos isto [os vistos gold] veio contribuir bastante para atrair mais investimento."
E destaca que "nesse campo o ministro Paulo Portas fez um excelente trabalho e tem jeito e cheiro para estas coisas".
Depois da China, os países do Médio Oriente são outros dos destinos onde Portugal deveria "fazer mais para atrair investidores", afirma Carlos Monjardino, que em breve fará uma deslocação à região, "para fazer uma política de cooperação com museus do Médio Oriente", mas, esclarece, "vou também, porque não resisto, tentar perceber o que é que eles querem de Portugal e o que o país lhes pode oferecer, para perceber se não podem investir mais cá."
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