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Crise muda face dos negócios luso-chineses

Notícia do jornal Ponto final publicada originalmente aqui.

As lojas chinesas diminuíram entre 20 a 25 por cento em Portugal, mas o grande investimento proveniente do Continente em terras lusas segue em tendência ascendente. Nos dois casos, a culpa é da crise económica e financeira.
Pedro Galinha
A contracção económica registada na zona euro – e à qual Portugal não escapa – já está a afectar as lojas chinesas, que se encontram do Algarve ao Minho, passando pelas regiões autónomas dos Açores e da Madeira. A garantia é dada ao PONTO FINAL pelo presidente da Liga dos Chineses em Portugal.
“Há muito menos lojas. Posso apontar para uma redução de 20 a 25 por cento num universo que, até há pouco tempo, era de cinco mil espaços comerciais. É bastante”, confessa Y Ping Chow, ao telefone, a partir do Porto.
A tese é também corroborada pelo presidente do Observatório da China, Rui D’Ávila Lourido. O investigador português avança que “o pequeno e médio comércio no interior das cidades têm sido afectados” pela recessão, “fragilizando muitos negócios, essencialmente ligados a lojas de vestuário, produtos decorativos e também ao sector da restauração”.
Segundo Lourido, a consequência imediata desta nova realidade é “a saída de Portugal de alguns dos proprietários e empregados chineses”. Mas há resistentes, adianta o presidente da Liga dos Chineses em Portugal.
“Quem não sai está a apostar em novas formas de comercialização. Fecham espaços mais pequenos e abrem outros maiores, que permite ter mais diversidade com os mesmos preços competitivos. Também há quem mantenha negócios aqui e esteja a investir na China”, explica Y Ping Chow.
Apesar de a conjuntura económica estar a provocar mudanças na comunidade (ver caixa), há outros níveis em que a presença chinesa em Portugal não atravessa retrocessos. “Assistimos a um crescimento exponencial em áreas do interesse estratégico da China, em 2011 e este ano”, aponta Rui D’Ávila Lourido, lembrando a compra de 21,35 por cento da EDP por parte da China Three Gorges Corporation e a aquisição de 25 por cento da REN pela State Grid – negócios motivados pela privatizações que Portugal está a operar.
Esta nova etapa na relação luso-chinesa não fica por aqui. A China tem planos para investir 12 milhões de euros num centro tecnológico em Portugal e tanto o Banco da China como o Banco Industrial e Comercial da China já abriram escritórios em Lisboa: “O que se pode traduzir num significativo aumento das actividades financeiras entre estes países”, resume o académico.
A “parceria estratégica” que Portugal e China têm mantido e alimentado recentemente foi confirmada na visita do ministro português de Estado e dos Negócios Estrangeiros ao Continente e a Macau, em Julho. Na altura, Paulo Portas afirmou que todos saem a ganhar se for desenvolvida uma “relação de cooperação e não de confronto”.
: CAIXA :
Comunidade chinesa em Portugal com “menos hipóteses de crescimento”
No final do ano passado, Portugal emitiu 15.600 autorizações de residência a imigrantes chineses. Os dados foram disponibilizados pelos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras portugueses, mas o presidente da Liga dos Chineses em Portugal, Y Ping Chow, calcula que “o verdadeiro número” atinja as 20 mil pessoas.
De acordo com o presidente do Observatório da China, Rui D’Ávila Lourido, o crescimento da comunidade tem sido feito “de forma gradual”, sendo constituída “por diferentes gerações”: “Os que vieram em meados do século XX, acompanhados dos seus filhos – alguns nascidos em Portugal e luso-chineses – e os de imigração mais recente.”
O académico adianta que o grau de integração profissional dos membros da comunidade “é muito diferente”. “Na maioria dedicam-se ao pequeno comércio, mas na segunda e terceira geração encontramos desde profissões liberais, como engenheiros e médicos, a empregados noutras áreas de actividade económica,” nota Lourido.
Com a crise económica e financeira, a grande fatia da comunidade chinesa radicada em Portugal, que trabalha em lojas, também sofre com o desemprego, garante Y Ping Chow. “Há espaços a fechar e os desempregados chineses têm mais dificuldades em arranjar trabalho. Para muitos, a solução passa por sair,” confirma o responsável máximo da Liga dos Chineses em Portugal, antes de acrescentar que, assim, a comunidade “tem menos hipóteses de crescimento”. P.G.
 
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